A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de retomar a elevação da Selic, agora em 10,75% ao ano, conspira contra a recuperação do nível de atividade. É preocupante constatar que o nosso país não consegue equacionar um fundamento essencial do capitalismo, que é o acesso, com custos razoáveis, ao crédito para o consumo e o financiamento das empresas para investirem em produção, inovação, expansão e prospecção de mercados. Essa lógica foi a base de construção da maior economia do mundo, a dos Estados Unidos.
Seguimos, há mais de três décadas, enfrentando o freio dos juros altos, responsáveis por 23% do “Custo Brasil” e, portanto, de parcela significativa de nossas desvantagens na concorrência com a maioria dos países. É o que demonstrou recente estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp. Estamos na contramão das tendências. Ironicamente, no mesmo dia, 18 de setembro, em que, perplexos, recebemos a notícia do aumento da Selic, o Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano, anunciou a redução de sua taxa básica em 0,50 ponto percentual, fixando-a entre 4,75% e 5% ao ano.
Não se justifica mais aumentar juros para conter o crescimento, com medo da inflação. Não podemos nos resignar à armadilha da eterna renda média e da evolução tímida do PIB, limitando nossa capacidade de criação de empregos, inclusão social e redução das desigualdades. Temos uma das maiores produções de alimentos do planeta e uma indústria capaz de bancar a expansão da demanda sem que haja pressões nos preços. É como se um time de futebol com 11 craques, muito capaz de fazer gols, seguisse na retranca. Esta é a receita infalível da derrota.
É hora de virar o jogo, partir para o ataque e rever o conceito ortodoxo e desgastado de nossa política monetária. A despeito da independência do Banco Central, que deve ser respeitada, os dirigentes da instituição e os responsáveis pela Fazenda e área econômica do governo precisam conversar mais, colocando os interesses nacionais acima de eventuais divergências políticas e ideológicas. Há de se ponderar, por justiça, a importância do ajuste fiscal para que haja mais segurança no processo de redução da Selic. Porém, a conjuntura atual, os claros sinais de recuperação da economia e a inflação controlada não justificam aumento da taxa.
Elevação do juro prejudica muito a vida nacional, a começar pelo povo e o governo, pois agrava de modo automático o serviço da dívida pública, afetando investimentos em prioridades como saúde, educação e segurança e retroalimentando o déficit fiscal (neste aspecto, é um constrangedor gol contra...). As empresas têm seus custos majorados, investindo e contratando menos. O consumo cai. É um círculo pernicioso de contração. Trata-se, a rigor, de um imposto nocivo, cujo pagamento penaliza de modo direto todos os brasileiros.
Somando a Selic com o alto spread bancário do País, permanecemos no chamado G4 da tabela mundial dos juros reais. Em consequência, nosso PIB enfrenta grave risco de entrar na zona do rebaixamento. A grande competição da economia global, cada vez mais acirrada, não costuma perdoar tais equívocos. É tempo de reagir para vencer o jogo!
Rafael Cervone
Presidente do Ciesp e primeiro vice-presidente da Fiesp