Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP
Numa das cenas mais memoráveis do cinema, a Inteligência Artificial HAL 9000, do filme “2001: Uma odisseia no Espaço (1968)”, implora para não ser desligado. Como um ser consciente, afirma “estar com medo” e diz que sua mente “está se esvaindo”. HAL 9000, que controlava os sistemas operacionais da espaçonave e interagia com os astronautas, havia se rebelado e assassinado parte da tripulação.
Este futuro, com máquinas interagindo como se fossem pessoas, está cada vez mais próximo. As respostas desconcertantemente humanas dadas pelo ChatGPT são só o começo. Cada vez mais presente no dia a dia, a Inteligência Artificial (IA) impressiona pelo que consegue atingir, inclusive dando ares de realidade à ficção.
Nas últimas semanas, conteúdos criados por IA muito realistas se espalharam pelas redes sociais. Entre eles, um retrato da princesa Diana hoje, quando teria quase 62 anos; o Papa Francisco num casaco branco fashion; o cantor sertanejo Cristiano Araújo, morto em 2015, cantando “Erro Gostoso”, sucesso recente de Simone Mendes; além de um “álbum inédito” do Oasis, banda inglesa que se desfez em 2009, no qual os vocais de Liam Gallagher são reproduzidos fielmente.
É tudo tão novo que as implicações da IA são incertas e suscitam inúmeras dúvidas e questionamentos. É ético ressuscitar a voz de um cantor que já morreu? Como distinguir verdade de fake news em fotos que parecem reais? Qual o futuro do trabalho quando as máquinas passam a assumir funções de pessoas? Como fica a responsabilidade legal? A disrupção é tamanha, com reflexos em toda a sociedade, que já há quem a chame de 5ª revolução industrial.
Vale ressaltar que a Inteligência Artificial já está no nosso cotidiano. Assistentes virtuais como Siri, Alexa e Google Assistant realizam tarefas, respondem a uma variedade de perguntas e controlam dispositivos domésticos. Da mesma forma, algoritmos baseados em IA são utilizados por plataformas como Netflix, Amazon e Spotfy para entender as preferências do usuário e fazer sugestões assertivas de novos conteúdos.
As mais diferentes áreas estão sendo impactadas. Por sua capacidade de analisar grandes quantidades de dados, algoritmos de IA irão revolucionar o segmento de saúde, auxiliando o diagnóstico de doenças ao identificar padrões e o desenvolvimento de tratamentos personalizados. O mesmo deverá ocorrer no setor de finanças, com a Inteligência Artificial fazendo análises rápidas e precisas de dados financeiros.
O sistema de Justiça vem automatizando funções com dispositivos capazes de realizar, em grande escala, redação de informações jurídicas, tarefas analíticas e preditivas – sem falar que na Estônia já há “juízes-robô”. Na manufatura, a automação dos processos traz maior eficiência e produtividade. Os robôs com IA farão tarefas repetitivas e complexas, com mais rapidez e menos erros, aumentando a competitividade.
Os efeitos no mercado de trabalho serão profundos, pois a tecnologia irá transformar, inclusive, a forma como os empregos estão estruturados. Um exemplo é o setor de transportes: os veículos autônomos irão mudar a realidade de motoristas de táxi, de carros de aplicativos e de caminhões.
Algumas ocupações se tornarão obsoletas, mas outras surgirão. Por isso, com o inexorável avanço e aprimoramento da Inteligência Artificial, requalificar a mão-de-obra é fundamental para reconversão de habilidades e adaptação às mudanças. A educação, sobretudo a profissionalizante, será mais necessária do que nunca.
No próximo artigo, vamos abordar as iniciativas no âmbito legal, no Brasil e no exterior, para regulamentar a Inteligência Artificial e evitar seu mau uso.