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O setor depende fortemente de crédito para investimentos e capital de giro, que se tornam proibitivos em um ambiente de Selic elevada.

28/08/2025 - Ao comentar a primeira deflação registrada no País em dois anos, anunciada nesta terça-feira (26/08) pelo IBGE, Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Fiesp, manifestou a expectativa de que o dado sensibilize o Comitê de Política Monetária (Copom) a iniciar um ciclo de redução da Selic.

Por ocasião da última reunião do órgão, em 29 e 30 de julho, eu já havia observado que a inflação estava dando sinais de arrefecimento, o que abria melhores possibilidades de queda dos juros. Isso é fundamental, pois a taxa básica vigente de 15% ao ano é absolutamente insustentável”, afirmou Cervone.

De acordo com o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, caiu 0,14% em agosto. Trata-se da primeira deflação desde julho de 2023, quando o índice havia recuado 0,07%. Também foi a queda mais intensa desde setembro de 2022 (-0,37%). Para Cervone, “essa é a ‘deixa’ para a redução dos juros sem comprometer a estabilidade da economia”.

Entretanto, ele alerta que o desequilíbrio de caixa do setor público também precisa ser enfrentado.

“É necessário que as políticas monetária e fiscal sejam bem calibradas, visando ao crescimento mais robusto do PIB”, disse, ao destacar que o déficit estatal pressiona preços, reduz a capacidade de investimento da União, estados e municípios e gera incertezas sobre o futuro.

Segundo o presidente do Ciesp, os efeitos da política de juros elevados são particularmente severos para a indústria, tanto por razões estruturais quanto conjunturais. O setor depende fortemente de crédito para investimentos e capital de giro, que se tornam proibitivos em um ambiente de Selic elevada.

Máquinas, equipamentos, inovação e modernização tecnológica exigem financiamentos de médio e longo prazos. Com juros altos, o custo desses financiamentos desestimula a expansão da capacidade produtiva e a atualização do parque industrial”, afirmou.

Cervone lembrou, ainda, que o encarecimento do crédito de curto prazo afeta de modo direto o caixa das empresas, dificultando a manutenção de estoques, a compra de insumos e o pagamento de salários. É um impacto particularmente duro para pequenas e médias indústrias. O resultado, alertou, pode ser a redução da produção, cortes de postos de trabalho e até fechamento de unidades.