06/11/2024 - “Ao analisar as seguidas edições do Boletim Focus do Banco Central, nota-se que as ‘previsões’ dos analistas do mercado financeiro quanto às decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a Selic quase sempre se concretizam. Assim, é preocupante observar que a publicação desta semana, às vésperas da penúltima reunião do órgão em 2024, indique um novo aumento da taxa básica de juros, de 0,5 ponto percentual, elevando-a para 11,25% ao ano”, pondera Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A pergunta que não quer calar: o pessoal da área das finanças é que influencia as decisões adotadas pelos membros do Copom ou a posição destes diante do cenário econômico é tão óbvia para quem lida apenas com ganhos fiduciários, que é fácil acertar o que será decidido sobre a Selic?”, questiona Cervone, comparando: “É um dilema análogo à clássica dúvida, que mexe com a imaginação de todos desde a infância, sobre se foi o ovo ou a galinha que surgiu primeiro”.
De todo modo, enfatiza o presidente do Ciesp, “seria interessante que as autoridades monetárias também perguntassem aos empresários da indústria, por exemplo, qual o impacto de 0,5 ponto percentual da Selic no custo de um financiamento para investir em máquinas e equipamentos ou manter o capital de giro. Quantos empregos nos setores produtivos deixam de ser gerados a cada aumento da taxa, que, somada aos spreads bancários, torna os juros reais brasileiros um dos mais elevados do mundo? E a retroalimentação da dívida pública, que cresce na mesma proporção, agravando o desequilíbrio fiscal, tão nocivo à economia?”
Também é preciso considerar que, excetuando a Argentina, quase todas as nações da América Latina que utilizam a metodologia do teto de gastos têm inflação maior do que a do Brasil e uma taxa de juros menor. “E há um detalhe importante: cresceram bem mais do que o nosso país”, compara Cervone, relacionando a expansão do PIB das economias regionais na década 2012/2022. No Paraguai, avanço foi de 36,7%. Seguem-se: Colômbia (34,7%); Peru (31,5%); Chile (23,3%); e Uruguai (15%). “Com pífios 2,2%, estamos à frente apenas da Argentina (1,8%), há muito mergulhada em sucessivas crises”.
Lembrando que os juros elevados, muito acima do praticado na maioria dos países, têm sido um dos itens mais onerosos do “Custo Brasil” e um dos fatores que mais afetam a competitividade das empresas nacionais, o presidente do Ciesp espera que “o Copom, ao término de sua reunião nesta quarta-feira, 6 de novembro, contrarie as ‘previsões’ do mercado financeiro e surpreenda com uma bem-vinda redução da Selic”.
Concluindo, Rafael Cervone ressalva ser necessário um mínimo de sinergia entre as políticas monetária e fiscal para que o Brasil cresça de modo sustentado e sem gerar inflação. Para o empresário, isso não é o que esperam apenas as entidades empresariais da indústria, mas todos os setores produtivos e a sociedade brasileira.