Você esta usando um navegador desatualizado. Para uma experiência de navegação mais rápida e segura, atualize gratuitamente hoje mesmo.
  • calendar_month
  • update
  • person Adriana Matiuzo
  • share Compartilhe

Presidente do Ciesp defende inclusão e diversidade, mas chama a atenção sobre o peso dos encargos trabalhistas como fator de perda de competitividade.

28/05/2025 - Cerca de 76% das indústrias têm tido dificuldades para preencher suas vagas de emprego, segundo dados divulgados nesta segunda (27), durante um evento em celebração ao Dia da Indústria, promovido em São Paulo pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e o Senai-SP. O evento “O Futuro do Capital Humano no Setor Produtivo” trouxe especialistas e novos dados para promover uma reflexão sobre os motivos que têm levado a indústria, muitas vezes, a um “apagão de mão de obra”.

O evento reuniu cerca de 500 empresários e lideranças do Ciesp, da Fiesp e do Senai e também teve transmissão pelo Youtube. Os presidentes do Ciesp, Rafael Cervone, e da Fiesp, Josué Gomes, prestigiaram o evento.

Flexibilidade e empreendedorismo
Durante o primeiro painel, o comunicólogo e escritor Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, apresentou uma pesquisa inédita realizada com foco em apoiar as empresas na compreensão do fenômeno e ajudar a buscar soluções. O estudo ouviu 1.500 trabalhadores do estado de São Paulo e revelou, dentre outras coisas, que na opinião de 64% dos profissionais paulistas, o trabalho formal oferece pouca flexibilidade para conciliar vida pessoal e profissional. Para 67%, o trabalho com carteira assinada deixou de garantir estabilidade e segurança para o futuro.

Meirelles ainda apresentou dados sobre as expectativas do trabalhador paulista. Dentro do público ouvido, 63% dizem que seu maior sonho profissional é ter um negócio próprio. O número cai um pouco entre os trabalhadores da indústria, mas, ainda assim, chama a atenção. No setor, 58% dos trabalhadores sonham em ter o próprio negócio.

Quando a gente consegue entender a história dessas pessoas, percebe que elas estão começando a mudar o seu jeito de valorar o seu próprio tempo, o seu próprio trabalho. É como se não esperassem mais que as pessoas dissessem o quanto vale a sua própria hora e isso transforma a relação entre contratantes e contratados. Essa é uma realidade objetiva e não adianta ‘brigar’ com os dados”, disse Meirelles.

No terceiro painel “Trabalho ou Emprego: aspectos econômicos”, o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, mostrou dados de uma pesquisa feita por seu departamento, apontando que, entre 2024 e março de 2025, 87,3% das indústrias paulistas buscaram contratar funcionários, sendo que 8 a cada 10 conseguiram realizar a contratação. No entanto, 77% das empresas declararam que o processo de seleção e contratação foi "difícil ou muito difícil".

Qualificação, demografia e tecnologia
Outro ponto destacado foi o da qualificação da mão de obra. Rodrigo Soares, professor titular de Economia na Cátedra Fundação Lemann do Insper, disse que no caso da escassez de mão-de-obra qualificada, os processos são endógenos, ou seja, são frutos da realidade econômica.

A gente teve historicamente um estoque de mão-de-obra muito pouco qualificado, especialmente quando olhamos os últimos 30 anos. Temos desafios, mas o perfil tem mudado dramaticamente quando olhamos para os números. A mão-de-obra qualificada está ficando mais escassa, por outro lado, temos tecnologias em determinados setores que são de um modelo muito antigo, baseado no uso intensivo de mão de obra não qualificada e esses setores têm de fazer uma transição que deve ser anterior até mesmo à transformação digital ou ao uso da Inteligência Artificial. Temos que passar por um movimento em direção ao capital clássico. Acho que esses desafios, portanto, não vão diminuir”, disse o professor Rodrigo Soares.

Rodrigo também afirmou acreditar que apesar de ainda não ser um país de renda alta e estar “longe disso”, o Brasil está passando por um momento em que a mão-de-obra qualificada já está mais escassa e os salários estão aumentando. Na sua avaliação, o processo não deve ser revertido, pois representa uma importante qualificação no mercado. Passar a usar tecnologias mais intensivas em uso de mão de obra qualificada é algo “inevitável”, na opinião do professor.

Já o coordenador de política social e de Mercado de Trabalho para a Europa no Instituto de Economia do Trabalho (IZA), o alemão Werner Eichhorst, durante sua apresentação “Workforce Challenges Phenomenon”, destacou que o envelhecimento da população e a queda na taxa de natalidade devem levar o Brasil a um ponto de retorno demográfico até 2041, o que trará impactos à mão-de-obra.

Segundo dados do IZA, atuar com foco na inclusão de grupos específicos, como as mulheres, com adaptações nos horários, facilitar a mobilidade e a migração, promover a integração entre as gerações mais jovens e as mais velhas, incluindo Políticas Ativas do Mercado de Trabalho (intervenções públicas destinadas a melhorar o funcionamento do mercado) e criar ambientes de trabalho mais atrativos são algumas das medidas importantes para ajudar a solucionar a escassez de mão-de-obra.

“As alavancas políticas são bastante gerais e universais, mas a concepção concreta depende das circunstâncias setoriais e nacionais”, disse Eichhorst.

Encargos trabalhistas X competitividade
Na mesma linha, Rafael Cervone, presidente do Ciesp, destacou o papel do Sesi e do Senai na formação de pessoas, bem como a importância dos investimentos em infraestrutura, inovação e qualificação profissional.

Para que a indústria possa realizar todo o seu potencial como protagonista do desenvolvimento sustentado e da transformação da sociedade pela inclusão, diversidade e aumento do patamar de renda, é importante um ambiente de negócios mais favorável do que o enfrentado no País nas últimas quatro décadas”, contextualizou Cervone, que representa pelo Ciesp hoje cerca de oito mil empresas.

Ele também chamou a atenção para a questão dos encargos trabalhistas do País, que, em sua visão, exigem uma solução eficaz e definitiva por estarem embasados em uma “legislação cruel”, que faz do trabalho formal um fator de perda de competitividade, sendo que "o propósito mais expressivo da indústria é gerar e distribuir renda."

O evento pode ser visto no canal do Ciesp no Youtube: @ciesp.oficial